quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

50º aniversário da Campanha da Fraternidade é comemorado no RN

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Foto: Arquivo Arquidiocese de Natal
A Igreja Católica celebra nesta quinta-feira (14), no município de Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal, os 50 anos da Campanha da Fraternidade. Idealizada pela Arquidiocese da capital potiguar em 1962, apenas em âmbito local, a Campanha foi propagada no ano seguinte à região Nordeste e, por fim, em 1964, se tornou um evento nacional, com grande importância no calendário católico brasileiro.
Para relembrar a origem, uma comitiva da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) irá ao povoado de Timbó, onde tudo começou, para relembrar a primeira edição da Campanha da Fraternidade.
"A Campanha da Fraternidade surgiu como mais uma inovação no contexto do Movimento de Natal. Impossível dimensionar tamanha ousadia sem aquilatar o clima de renovação e de entusiasmo vivenciado nos anos 50 e 60 com o objetivo de direcionar o poder da Igreja em favor da maioria da população, os pobres e injustiçados", disse Otto Euphrásio de Santana, pároco de Nísia Floresta à época.
A comunidade católica local queria um instrumento que viabilizasse a caridade, a exemplo do que estava sendo praticado no período pós-guerra na Europa e Estados Unidos. “Tal inquietação gerou um sentimento de imperiosa necessidade de criar um mecanismo que arcasse com o custeio dos programas sócio pastorais e se transformasse num instrumento de educação cidadã permanente”, revelou Otto.


A ação pioneira aconteceu na comunidade Timbó, em Nísia Floresta, a 35 quilômetros da capital. O modelo adotado na campanha foi sugeriro por Dom Heitor Sales, que conhecia uma ação semelhante na Alemanha.
“Quando morei na Alemanha conheci uma campanha que incentivava a doação do sacrifício durante a quaresma. Lá, muitos deixavam de fumar charuto, logo, o valor que seria usado para alimentar este vício era revertido em doações para ajudar a população de países pobres. Achei a iniciativa positiva e sugeri que adaptássemos o modelo aqui no estado”, lembrou  Dom Heitor Sales.
Ainda segundo Dom Heitor, -  que acompanhou os primeiros passos da Campanha junto ao então administrador apostólico, dom Eugênio de Araújo Sales, falecido em 2012, - a ideia da campanha era alimentar os famintos por comida e conhecimento. Para isso, a sociedade toda deveria se envolvida na causa.
“Durante a quaresma, quando se recolhe as doações, é tempo de partilhar. Durante a CF passamos a mensagem de que é preciso dividir o que temos com os outros. Cada um temos esta obrigação. Não somos uma ilha isolada no oceano, temos que nos ajudar mutuamente. Esta é a principal função da campanha”, defendeu Dom Heitor.
Os fiés contribuem com a campanha, que além de arrecadar doações, dentros de envelopes específicos, ainda dissemina os ensinamentos cristãos a cerca do tema que  aborda a cada ano. Desde a criação, 49 temas foram focos de reflexão da Igreja.
“Não consigo eleger um tema que tenha sido mais importante. Sempre escolhemos abordagens que sejam importantes para a sociedade, levando em consideração o momento em que vive a humanidade”, explicou o bispo. “Como esse ano teremos a Jornada da Juventude no Brasil -  evento que reunirá  2 milhões de jovens, de todo o mundo, no Rio de Janeiro, e contará com a presença papal -  esse é um bom momento de falar sobre e, para a juventude. Por isso, esse ano o tema é Fraternidade e Juventude”, acrescentou.
Clique aqui e conheça todos os temas que já foram abordados pela Campanha da Fraternidade.
Comunidade do Timbó
O povoado, localizado no município de Nísia Floresta, na Grande Natal, era muito pobre e não possuía padre, por isso foi escolhido para receber a primeira edição da campanha. O objetivo era ajudar a comunidade com roupas, comida e alfabetização, além de disseminar a mensagem de Deus.
“A gente queria elevar o nível social da comunidade. Ensinado a população a ler e escrever, doando vestimentas e alimentando o corpo e o espírito”, lembrou Dom Heitor.
Para tanto, se fez necessário envolver a comunidade cristã na busca por doações.
“O valor arrecadado é anunciado ao final da campanha e o dinheiro é dividido entre a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ), arquidiocese e paróquias. A verba é usada para a manutenção da missão da Igreja – evangelizar – e para a ajuda social”, enfatizou Dom Heitor.
O padre recém ordenado, Otto Euphrásio de Santana, se ofereceu para realizar missas dominicais na comunidade e percebeu que os moradores precisavam de auxílio.
"Percebemos que o gesto concreto de solidariedade fraterna não podia se restringir a uma contribuição em dinheiro na coleta da Missa do domingo. Fazia-se necessário criar uma forma de oferecer ao povo a oportunidade de expressar sua vivência fraterna. Que chegasse a todos em suas casas e em seus locais de trabalho e de convivência. Que fosse acessível à grande maioria dos que não frequentavam a Missa dominical. E que se materializasse em realidades de sua cultura local", lembrou Otto, que deixou a vida religiosa mas ainda se dedica às obras da Igreja.
A partir desta constatação, nasceu a Marcha da Fraternidade. Revestida de festa, na forma de uma caminhada a pé. De casa em casa os voluntários coletavam o que o povo queria e podia ofertar. O importante era a expressão de participação, de solidariedade.
“Durante a preparação mobilizávamos os meios de comunicação existentes: serviço de som, alguns instrumentos musicais, numa improvisada banda de música, cartazes e faixas. Todos os modos de locomoção: jumento, carroças, carros de boi, bicicletas, tratores e automóveis. O povo sabia que podia contribuir com o que tivesse disponível em casa. Tudo era muito bem recebido, pois vindo do coração”, conta Otto.
As doações simbolizavam bem as características do povoado: ovos, galinhas, hortaliças diversas (quiabo, maxixe, batata doce, chuchu, coentro, cebolinha, jerimum), frutas (jaca, abacate, banana, laranja, seriguela), caranguejo, camarão, bolacha, feijão e milho.
Do G1 RN

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