50º aniversário da Campanha da Fraternidade é comemorado no RN
Foto: Arquivo Arquidiocese de Natal
A Igreja Católica celebra nesta
quinta-feira (14), no município de Nísia Floresta, na região
metropolitana de Natal, os 50 anos da Campanha da Fraternidade.
Idealizada pela Arquidiocese da capital potiguar em 1962, apenas em
âmbito local, a Campanha foi propagada no ano seguinte à região Nordeste
e, por fim, em 1964, se tornou um evento nacional, com grande
importância no calendário católico brasileiro.
Para relembrar a origem, uma comitiva da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) irá ao povoado de
Timbó, onde tudo começou, para relembrar a primeira edição da Campanha
da Fraternidade.
"A Campanha da Fraternidade surgiu como
mais uma inovação no contexto do Movimento de Natal. Impossível
dimensionar tamanha ousadia sem aquilatar o clima de renovação e de
entusiasmo vivenciado nos anos 50 e 60 com o objetivo de direcionar o
poder da Igreja em favor da maioria da população, os pobres e
injustiçados", disse Otto Euphrásio de Santana, pároco de Nísia Floresta
à época.
A comunidade católica local queria um
instrumento que viabilizasse a caridade, a exemplo do que estava sendo
praticado no período pós-guerra na Europa e Estados Unidos. “Tal
inquietação gerou um sentimento de imperiosa necessidade de criar um
mecanismo que arcasse com o custeio dos programas sócio pastorais e se
transformasse num instrumento de educação cidadã permanente”, revelou
Otto.
A ação pioneira aconteceu na comunidade
Timbó, em Nísia Floresta, a 35 quilômetros da capital. O modelo adotado
na campanha foi sugeriro por Dom Heitor Sales, que conhecia uma ação
semelhante na Alemanha.
“Quando morei na Alemanha conheci uma
campanha que incentivava a doação do sacrifício durante a quaresma. Lá,
muitos deixavam de fumar charuto, logo, o valor que seria usado para
alimentar este vício era revertido em doações para ajudar a população de
países pobres. Achei a iniciativa positiva e sugeri que adaptássemos o
modelo aqui no estado”, lembrou Dom Heitor Sales.
Ainda segundo Dom Heitor, - que
acompanhou os primeiros passos da Campanha junto ao então administrador
apostólico, dom Eugênio de Araújo Sales, falecido em 2012, - a ideia da
campanha era alimentar os famintos por comida e conhecimento. Para isso,
a sociedade toda deveria se envolvida na causa.
“Durante a quaresma, quando se recolhe
as doações, é tempo de partilhar. Durante a CF passamos a mensagem de
que é preciso dividir o que temos com os outros. Cada um temos esta
obrigação. Não somos uma ilha isolada no oceano, temos que nos ajudar
mutuamente. Esta é a principal função da campanha”, defendeu Dom Heitor.
Os fiés contribuem com a campanha, que
além de arrecadar doações, dentros de envelopes específicos, ainda
dissemina os ensinamentos cristãos a cerca do tema que aborda a cada
ano. Desde a criação, 49 temas foram focos de reflexão da Igreja.
“Não consigo eleger um tema que tenha
sido mais importante. Sempre escolhemos abordagens que sejam importantes
para a sociedade, levando em consideração o momento em que vive a
humanidade”, explicou o bispo. “Como esse ano teremos a Jornada da
Juventude no Brasil - evento que reunirá 2 milhões de jovens, de todo o
mundo, no Rio de Janeiro, e contará com a presença papal - esse é um
bom momento de falar sobre e, para a juventude. Por isso, esse ano o
tema é Fraternidade e Juventude”, acrescentou.
Clique aqui e conheça todos os temas que já foram abordados pela Campanha da Fraternidade.
Clique aqui e conheça todos os temas que já foram abordados pela Campanha da Fraternidade.
Comunidade do Timbó
O povoado, localizado no município de
Nísia Floresta, na Grande Natal, era muito pobre e não possuía padre,
por isso foi escolhido para receber a primeira edição da campanha. O
objetivo era ajudar a comunidade com roupas, comida e alfabetização,
além de disseminar a mensagem de Deus.
“A gente queria elevar o nível social da
comunidade. Ensinado a população a ler e escrever, doando vestimentas e
alimentando o corpo e o espírito”, lembrou Dom Heitor.
Para tanto, se fez necessário envolver a comunidade cristã na busca por doações.
Para tanto, se fez necessário envolver a comunidade cristã na busca por doações.
“O valor arrecadado é anunciado ao final
da campanha e o dinheiro é dividido entre a CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil ), arquidiocese e paróquias. A verba é usada para a
manutenção da missão da Igreja – evangelizar – e para a ajuda social”,
enfatizou Dom Heitor.
O padre recém ordenado, Otto Euphrásio
de Santana, se ofereceu para realizar missas dominicais na comunidade e
percebeu que os moradores precisavam de auxílio.
"Percebemos que o gesto concreto de
solidariedade fraterna não podia se restringir a uma contribuição em
dinheiro na coleta da Missa do domingo. Fazia-se necessário criar uma
forma de oferecer ao povo a oportunidade de expressar sua vivência
fraterna. Que chegasse a todos em suas casas e em seus locais de
trabalho e de convivência. Que fosse acessível à grande maioria dos que
não frequentavam a Missa dominical. E que se materializasse em
realidades de sua cultura local", lembrou Otto, que deixou a vida
religiosa mas ainda se dedica às obras da Igreja.
A partir desta constatação, nasceu a
Marcha da Fraternidade. Revestida de festa, na forma de uma caminhada a
pé. De casa em casa os voluntários coletavam o que o povo queria e podia
ofertar. O importante era a expressão de participação, de
solidariedade.
“Durante a preparação mobilizávamos os
meios de comunicação existentes: serviço de som, alguns instrumentos
musicais, numa improvisada banda de música, cartazes e faixas. Todos os
modos de locomoção: jumento, carroças, carros de boi, bicicletas,
tratores e automóveis. O povo sabia que podia contribuir com o que
tivesse disponível em casa. Tudo era muito bem recebido, pois vindo do
coração”, conta Otto.
As doações simbolizavam bem as
características do povoado: ovos, galinhas, hortaliças diversas (quiabo,
maxixe, batata doce, chuchu, coentro, cebolinha, jerimum), frutas
(jaca, abacate, banana, laranja, seriguela), caranguejo, camarão,
bolacha, feijão e milho.
Do G1 RN
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